Tiveram início esta sexta-feira, dia 24 de janeiro, as Jornadas Luuandando com José Luandino Vieira – As Estórias de Ontem, Hoje e Amanhã. O evento, organizado pela Município de Ourém através da Biblioteca Municipal, Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Politécnico de Tomar, decorre no Teatro Municipal de Ourém, nos dias 24 e 25 de janeiro e destaca a vida e obra de José Luandino Vieira, uma das figuras maiores da literatura angolana contemporânea e natural de Lagoa do Furadouro, concelho de Ourém.
O evento iniciou-se com uma performance de leitura protagonizada por Luís Costa, com base no percurso biográfico de José Luandino Vieira. Seguiu-se a Sessão Solene de Abertura onde participaram Agripina Carriço Vieira, curadora das jornadas, João Coroado, presidente do IPT, Guilherme d’Oliveira Martins, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian e Luís Miguel Albuquerque, presidente da Câmara Municipal de Ourém. Durante a sua intervenção, Luís Miguel Albuquerque sublinhou a importância deste evento para a valorização do património literário de José Luandino Vieira e de Ourém, com uma clara alusão às suas raízes culturais. Destacou também a criatividade e envolvimento da comunidade nesta iniciativa que contou com a presença da comunidade estudantil do concelho. Durante a sua intervenção, Luís Miguel Albuquerque identificou José Luandino Vieira como “um dos maiores vultos da literatura luso-angolana, reconhecido pela sua contribuição inestimável à literatura africana de língua portuguesa”, num evento que presta homenagem à sua obra, “marcada pela autenticidade e pela integração de elementos culturais e linguísticos do português falado em Angola”. Entre as suas obras mais notáveis, o Presidente destacou Luuanda e A Casa dos Espíritos, que continuam a ser fontes de reflexão em torno de questões sociais, políticas e identitárias. Luís Miguel Albuquerque salientou de igual forma o papel essencial de Agripina Vieira na organização destas jornadas, reconhecendo o seu esforço e os demais organizadores, no reforço dos laços entre Luandino e a sua terra natal, assim como a parceria com instituições de relevância: a Fundação Calouste Gulbenkian, que contribuiu para o desenvolvimento da Biblioteca Municipal de Ourém, e o Instituto Politécnico de Tomar, pelo seu impacto na formação da comunidade local. Concluiu, sublinhando a importância de celebrar o legado literário de José Luandino Vieira, considerando-o uma figura imortal pela profundidade e valor da sua contribuição para a literatura e para a cultura. Presentes na sessão inaugural das jornadas estiveram igualmente os Vereadores Humberto Antunes e Micaela Durão.
O primeiro painel, intitulado “Memórias espalhadas por inúmeras páginas: Papéis da Prisão”, foi coordenado por Guilherme d’Oliveira Martins e contou com as intervenções de Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha, e do próprio moderador. A intervenção explorou a importância e a investigação em torno dos escritos de Luandino Vieira na prisão e a forma como estes moldaram a sua narrativa literária, refletindo sobre a sua relevância histórica e literária de dimensão global. O debate que se seguiu contou com uma participação ativa da audiência.
No segundo painel, “As lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo: O Livro dos Guerrilheiros”, os oradores José Luís Pires Laranjeira (Universidade de Coimbra) e Livia Apa (Centro de Estudos sobre África Contemporânea na Universidade de Nápoles “L´Orientale”) revisitaram o universo romanesco do autor, sublinhando o seu impacto no contexto das lutas pela independência de Angola. Moderado por Zeferino Coelho (Editor da Caminho/Leya), os intervenientes analisaram as temáticas de resistência e memória presentes no romance, nomeadamente a influência da literatura do autor na construção de narrativas sobre Angola. Livia Apa, em concreto, trouxe também uma reflexão sobre “Luandino ao cinema: Apontamentos sobre dois filmes de Sarah Maldoror”.
O primeiro painel da tarde explorou a obra Luuanda, sob o tema “Estes casos passaram no musseque Sambizanga, nesta nossa terra de Luanda”. Moderado por Manuela Pargana Silva (RBE), esta Revisitação do universo romanesco de Luandino Vieira contou com as participações de Tânia Macêdo (Universidade de São Paulo) e Francisco Topa (Universidade do Porto) que, depois de uma breve apresentação biográfica de Luandido, destacaram, de forma por vezes metafórica, a representação das vivências do musseque e a influência cultural angolana na escrita de Luandino Vieira.
Luandino, a reinvenção da língua foi o último painel do dia. Apresentado por Hermínia Sol (IPT), o fórum abordou João Vêncio: Os Seus Amores, com o tema “As palavras mentem mas as pessoas falam verdade com elas!”. Carmen Tindó Secco (Universidade Federal do Rio de Janeiro) analisou a forma muito própria e “genial” como Luandino Vieira recriou a língua portuguesa para refletir a oralidade angolana. Um debate concluiu o painel.
O dia encerrou com um espetáculo de leitura declamada e musicada “20’Dizer Luandino Vieira”, apresentado por José Rui Martins e Luísa Vieira, da Trigo Limpo Teatro ACERT, seguido de uma visita guiada à Vila Medieval de Ourém.
As jornadas, que têm continuidade amanhã dia 25, são um convite à exploração do universo Luandino e do impacto das suas estórias na literatura de língua portuguesa, refletindo sobre as raízes culturais que, naturalmente, moldaram a sua escrita e criaram uma visão muito vincada e própria da realidade. Para além dos vários painéis de discussão, o evento incluiu também a exposição “Luuandando pelas escolas de Ourém”, que reuniu quase uma centena de trabalhos desenvolvidos pelas instituições educativas do concelho, em torno da vida e obra de Luandino Vieira e patente na sala-estúdio do TMO.